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Por José Sarney

Em toda parte, existem na memória as figuras populares que enchem o cotidiano das cidades. Aqui no Maranhão não é diferente. Sempre tivemos muitos: um deles era o Comendador Satyro Pamphilo, que andava sempre de casaca preta, cartola e bengala. Ele estava sempre muito sóbrio e sério, cumprimentando todos os que passavam por ele.

Mas a sua fama maior era por causa do espetáculo que fazia todo ano, chamado “A Queda da Bandeira”. Satyro fazia os convites à mão e colocava embaixo das portas das casas; levava quase todo o ano convidando para sua festa no Teatro São Luís — que depois passou a se chamar Teatro Arthur Azevedo.

O espetáculo resumia-se no seguinte: no dia 7 de setembro, ele colocava uma mesa, forrada com um pano verde, em cima do palco, bem na frente, e uma escadinha atrás dessa mesa, por onde ele subia. O espetáculo era muito popular, sobretudo entre os estudantes de direito, cuja faculdade ficava em frente do teatro. Às sete horas da noite, em ponto, o Comendador Satyro entrava no palco e subia na mesa. Uma fanfarra tocava o Hino da Independência. Então, Satyro se enrolava na bandeira e se atirava lá de cima, no meio da estudantada, que o recebia nos braços; não poucas vezes, ele ia ao chão.

O público aclamava e gritava:

— De novo! De novo! De novo!

E o Comendador Satyro subia novamente e tornava a se atirar no meio do pessoal. Era uma pataquada (como se dizia naquele tempo) terrível! Mas era célebre na cidade a “Festa da Queda da Bandeira do Comendador Satyro”.

Havia muitas outras histórias com Satyro, que fazia questão de ser chamado de Comendador. Ele escreveu um livro, Embófias de um cérebro inlustrado, que incluía um dicionário construído com uma série de palavras que ele inventou.

Meu pai, quando tinha uma festa de aniversário, citava o Satyro dizendo: “Temos hoje um ispiquitó”.

Era uma palavra dicionarizada pelo Satyro, com a seguinte definição: “Anatalácio de donzela moça.”

Outro termo era como ele definia polêmica de jornal: “metrandação”. E acrescentava: “metrandação cerebral”.

Política era “rega-bofe de anacoretas”.

Quando ficava sabendo que haveria festas de aniversário, de casamento, ele se apresentava aos anfitriões e era difícil que não improvisasse um versinho.

Foi assim que, na casa da Dona Doca, que aniversariava uma das filhas, ele saiu-se com esta:

— Matilde, Maria e Maroca / Três estrelas divinais / São filhas da Dona Doca…

Parou, procurou a rima e, não a encontrando, fechou com esse verso:

— …Com três diferentes pais.

Não é preciso dizer que foi expulso da festa.

A verdade é que, na paisagem das figuras populares, até hoje Satyro deixa muitas saudades.

Mas nunca esquecemos disto:

— Matilde, Maria e Maroca / Três estrelas divinais / São filhas da Dona Doca / Com três diferentes pais.

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