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Ex-ministro da Justiça Sergio Moro anuncia saída do governo

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirmou nesta quarta-feira (8), em depoimento à Justiça do Distrito Federal, que não influenciou a atuação da Polícia Federal na investigação sobre as invasões às contas de Telegram de autoridades.

De acordo com Moro, que como ministro tinha a corporação sob sua gestão, a "PF atuou de maneira independente". O ex-ministro foi um dos alvos do hackeamento, que é visto como algo relacionado à chamada "Vaza Jato", divulgação de mensagens privadas atribuídas ao então juiz e aos procuradores da Operação Lava Jato.

Moro explicou ao juiz Ricardo Leite que, durante o primeiro semestre de 2019, quando ainda ocupava o cargo de ministro de Segurança Pública foi contatado com a informação que procuradores da lava jato teriam sofrido ataques cibernéticos que buscavam hackear conteúdos no Telegram. 

“E em abril final da tarde o mesmo número do meu celular estava me ligando e me chamou a atenção. Eu só observei e na segunda ligação e cometi um equívoco de atender, mas sem consequências. Em seguida, constatei que eu havia sido uma das vítimas de hackeamento", disse. 

Segundo Moro, na sequência ele recebeu em seu celular uma mensagem avisando que havia ingressado no Telegram, aplicativo que havia deixado de usar, segundo ele, em 2017. "Esse era o modus operandi. Foi aí que comuniquei a Polícia Federal”, afirma. 

O ex-ministro afirmou que deixou o Telegram justamente por razões relacionadas a invasões. Sergio Moro também disse ter acompanhado as investigações à distância e não conhecer os detalhes das apurações. "Eu ser informado das investigações é natural, mas eu nunca dirigi as investigações, jamais conduziria”, disse.

"Como ministro, não acompanhava, só requisitei a PF. Em julho, foi feita uma operação com identificação dos responsáveis e me disseram que foi importante a disponibilização do meu celular para perícia", completa Sergio Moro, que diz ter sabido apenas neste momento que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também eram alvos do ataque.

Ministério da Justiça

Ao ser perguntado por quê não fez uma representação formal, e fez como ministro da Justiça, Moro afirmou que, embora o celular hackeado fosse um número privado, era utilizado também para questões de governo.

“Eu tinha posição de vítima e também me preocupava com a lei de Segurança Nacional. Eu só informei a direção da PF. Eu queria saber quem eram esses indivíduos. Havia uma situação extremamente preocupante em que criminosos estariam tentando ter informações confidenciais, até mesmo do ministro Paulo Guedes e da deputada Joice Hasselmann também", justifica. 

No ano passado, Moro informou que iria descartar mensagens apreendidas com suspeitos presos. O ministro da Justiça disse hoje que a afirmação de que o material seria descartado foi "apenas um mal-entendido" quando da declaração sobre a "possível destinação" das mensagens, "considerando a natureza ilícita dele e as previsões legais". 

O ministro ainda destacou que a própria PF já havia emitido nota sobre o assunto, assim como ele, para esclarecer que não haveria nenhuma determinação administrativa para destruição do material.

Manuela D'Ávila

A Operação Spoofing foi deflagrada em julho do ano passado e prendeu o hacker Walter Delgatti Neto, conhecido como "Vermelho". A ex-deputada Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) e o delegado Luiz Flavio Zampronha de Oliveira também depuseram ao juiz federal Ricardo Leite. 

Citada por Vermelho como contato entre ele e o jornalista Glenn GreenwaldManuela afirmou que apenas sugeriu ao hacker que procurasse o editor do site The Intercept Brasil e que foi orientada por um advogado. A ex-deputada também disse que Delgatti deu a entender que agia sozinho.

Por Gabriela Coelho, da CNN em Brasília

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